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“Deseja mais alguma coisa?”, é o garçom tesourando às reflexões na cabeça dela.
“Uma vodca.”
É um ato falho que ela percebe logo de cara, mas deixa passar na ausência de uma solução eficiente. Beber vodca é coisa feita entre quinze e dezoito anos e problemas com os garotos, ou tédio, ou as crises existenciais falsas, bem embasadas é claro, com notas de rodapé de Oscar Wilde e Chico Buarque. Lágrimas gratuitas e vômito, é para esfregar na cara dos amigos; aquilo de chamar atenção dentro do bando, fumar maconha, beber no gargalo, citar Fernando Pessoa e filmes franceses que só ela tinha visto; aquilo de reunir-se na praça de uma cidade do interior, num bar alternativo, roupas pretas, cabelo tingido de vermelho e o violão Gianini arranhando canções dos The Smashing Pumpkins que ninguém sabia muito bem a letra; e todos cantavam alto; aquilo que parece que foi ontem mesmo, mas que já faz dez anos ou mais; aquele tempo que parece estático, como uma cidade distante da qual perdeu-se o caminho de volta; a cidade imaginária, onde cada uma das pessoas de antigamente não envelhece e continua fazendo as mesmas coisas; como antes, desde sempre. Em verdade, a única coisa que permanece é a disputa pela atenção do bando; tal e qual como antes. Muda-se o aspecto, a intencionalidade é a mesma. Trocam-se as antigas diabruras de porre, vaidade intelectual, citar falas de filmes franceses, pelo ato de exibir o melhor emprego, salário, a casa, o carro, o marido, o doutorado, a cidade em que se mora, a precocidade cultural e boa educação dos filhos; aquilo de mostrar o quanto você deu certo na vida e está feliz com o amor exemplar ou comum da sua família: antes, hoje, sempre. É nessa hora que você percebe os mesmos adolescentes por baixo da barba, do terninho e maquiagem discreta, dos diplomas, da agenda apertada e da casa bem decorada. Perdidos, batendo cabeça na aresta da vida à procura de algum elemento substancial onde possam ancorar-se, tomar fôlego e seguir em frente.
“Uma vodca.”
É um ato falho que ela percebe logo de cara, mas deixa passar na ausência de uma solução eficiente. Beber vodca é coisa feita entre quinze e dezoito anos e problemas com os garotos, ou tédio, ou as crises existenciais falsas, bem embasadas é claro, com notas de rodapé de Oscar Wilde e Chico Buarque. Lágrimas gratuitas e vômito, é para esfregar na cara dos amigos; aquilo de chamar atenção dentro do bando, fumar maconha, beber no gargalo, citar Fernando Pessoa e filmes franceses que só ela tinha visto; aquilo de reunir-se na praça de uma cidade do interior, num bar alternativo, roupas pretas, cabelo tingido de vermelho e o violão Gianini arranhando canções dos The Smashing Pumpkins que ninguém sabia muito bem a letra; e todos cantavam alto; aquilo que parece que foi ontem mesmo, mas que já faz dez anos ou mais; aquele tempo que parece estático, como uma cidade distante da qual perdeu-se o caminho de volta; a cidade imaginária, onde cada uma das pessoas de antigamente não envelhece e continua fazendo as mesmas coisas; como antes, desde sempre. Em verdade, a única coisa que permanece é a disputa pela atenção do bando; tal e qual como antes. Muda-se o aspecto, a intencionalidade é a mesma. Trocam-se as antigas diabruras de porre, vaidade intelectual, citar falas de filmes franceses, pelo ato de exibir o melhor emprego, salário, a casa, o carro, o marido, o doutorado, a cidade em que se mora, a precocidade cultural e boa educação dos filhos; aquilo de mostrar o quanto você deu certo na vida e está feliz com o amor exemplar ou comum da sua família: antes, hoje, sempre. É nessa hora que você percebe os mesmos adolescentes por baixo da barba, do terninho e maquiagem discreta, dos diplomas, da agenda apertada e da casa bem decorada. Perdidos, batendo cabeça na aresta da vida à procura de algum elemento substancial onde possam ancorar-se, tomar fôlego e seguir em frente.
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Muito bom, parece até, que quase por um minuto, me senti na minha adolescência novamente, fazendo essas mesmas coisas de adolescentes, e relamente hoje percebo que é como uma cidade distante...A sua forma de descrever esses eventos me toca de forma sutil, parece até algo escrito por mim ou pensado por mim, a mesma idéia, dita com as palavras certas.
ResponderExcluirRafaela, ganhei meu dia.
ResponderExcluirObrigado pela paciência da leitura e gentileza do comentário.
Um abraço.
Impossível não se identificar, e a idéia da cidade imaginária me ganhou o dia. Fico feliz de dar de cara com um blog assim e ainda mais de saber que posso já ter passado pelo autor no meio da rua, sabe lá. Espero que tu poste bastante pra eu poder acompanhar o blog e não deixar ele esquecido até esquecer. Mas já valeu a visita.
ResponderExcluirOlá, Paula.
ResponderExcluirSe passar pela rua diga "Oi".
Acho que no fundo somos todos pequenos e frágeis, tentando esconder nossos defeitos e viver a vida da melhor maneira possível. O que muda é só o contexto. Parabéns pelo texto e pelo blog.
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