Camille Redouble (Noémie Lvovsky, 2012) |
O enredo é manjado: uma mulher na iminência da separação é lançada de forma misteriosa à sua adolescência para reviver os momentos em que conhece o seu grande amor. Mas não é o enredo – nem a forma como a adolescência e seus dramas se tornam ridículos e quase alienígenas sob a perspectiva da experiência. Há que se dizer que o filme é regular, contundo, fora o tom das filosofices discursivas típicas dos filmes franceses, há um clima que vai se formando (o uso do gravador para preservar a voz dos pais, por exemplo) e que culmina em uma cena que talvez seja a melhor cena sobre a precariedade da vida - e inevitabilidade da experiência da morte (a morte do outro) - que eu já vi no cinema. É realmente fora da curva de tão boa. Não vou adiantar as coisas pra não estragar a fruição de quem for ver o filme. Basta dizer que a coisa acontece na cozinha. E uma semana depois de ter assistido o filme, ainda estou com a cena cabeça.
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Era uma vez na Anatólia, (Nuri Bilge Ceylan, 2010) |
Caímos de gaiato em uma sessão de Era uma vez na Anatólia, no CineSesc. Digo de gaiato porque comecei a assistir o filme sem saber que o danado tinha 150 min. Veja bem: um filme turco com mais de duas de duração. Soma-se a isso o fato que o enredo é lento, a câmera trafega sem pressa nenhuma por estradas de cascalho desertas, mostrando um bando de homens que procuram um corpo cujo guia não sabe onde está. Na maior parte do filme esses sujeitos barbudos ficam descendo e subindo do carro, procurando uma árvore, procurando um sinal qualquer. Enquanto isso, conversam sobre banalidades. E olha só: o filme é excelente. Como se fosse a Árvore da Vida sem os monólogos etéreos em cenas de comercial de shampoo. A câmera é contemplativa e os diálogos cirúrgicos. Trabalhando no nível do subtexto, sempre deixando indícios, sinais: símbolos que remetessem a alguma coisa que ao mesmo tempo está e não está lá. Olha, esses turcos têm ciência. Era uma vez na Anatólia é um filme sobre o Eclesiastes. É tudo vento que passa.