Tinha um
casal no ônibus com carrinho de bebê próximo da porta. Uma criança de uns quatro meses,
no máximo. O ônibus era um desses modelos mais antigos, uma carcaça montada
sobre um chassi de caminhão. O casal deu sinal para descer no ponto do viaduto Washington
Luís. O ônibus parou e as portas se abriram. O homem desceu na frente. A mulher empurrou
o carrinho até a beirada e o homem pegou na ponta do carrinho. Subiram três
pessoas, apressadas. E de repente o motorista fechou a porta. Mas o casal ainda
estava descendo o carrinho. Houve uma gritaria generalizada e a porta chegou a
encostar no carrinho e começou a apertar. Mas o motorista viu o erro e abriu
outra vez a porta. Foi por pouco.
***
Domingo passado fomos almoçar
na casa do meu sogro. Não tinha sol. Chuviscava. Era mais ou menos 13h. Numa
travessa da Sabará, havia um homem e uma mulher na esquina vestindo uma faixa: 90m²,
3 vagas de garagem, últimas unidades. Deixa eu repetir: eles não estavam
segurando a faixa, eles eram a faixa. Duas
camisetas coladas e esticadas numa seta gigante. Como irmão siameses de borracha. O homem fumava
um cigarro. A mulher usava um fone de ouvido. Finalmente entendi o sentido
da palavra desumanização.