02/12/2011

Três ou quatro pontos sobre "A árvore da vida"





1) A árvore da vida (The Tree of Life, 2011), de Terrence Malick, é um filme que dialoga diretamente com o livro de Jó. Já na epígrafe, nos deparamos com um recorte do cap. 38. O cap. 38, é composto por um longo poema, é a primeira resposta de Deus a Jó. Até ali, Jó está emparedado no silêncio de Deus, com o corpo cheio de feridas, indagado pela mulher: “Persistes ainda em tua integridade?”. E Deus calado. Mudo. Indiferente. A postura de Jó diante do sofrimento é a contemplação: se aceitamos o bem que Deus nos dá, por que não deveríamos aceitar o mal? (Deus oferta o mal?) Todavia, quando finalmente vem a resposta de Deus, composta por uma série de perguntas, longe de esclarecer a Jó sobre a razão de seu sofrimento (sobre a questão ontológica do sofrimento no mundo), a resposta desvela um mistério ainda maior. Um abismo que aponta para insignificância da existência humana, do estar no mundo. E nesse ponto, é Jó quem se cala. Sem sombra de dúvidas, um dos textos mais misteriosos, belos e fascinante das escrituras.




2) As cenas iniciais do filme de Malick tratam de duas vias para fruir a vida. O caminho da Graça e o caminho da Natureza. O caminho da Graça é o caminho da contemplação, da suspensão dos juízos, da fé. Já o caminho da Natureza, é o caminho da estética, dos prazeres. Essa questão retorna no sermão do pastor (ou padre). O pastor explana sobre Jó. Fala como o sacrifício próprio, o sofrimento, a retidão de caráter, a integridade, não evitam nada. Nada nos salva da desgraça. Ela sempre esteve aí e sempre vai estar. E mesmo Jó, que era o mais justo dos servos de Deus, não conseguiu evitar que a desgraça caísse sobre sua vida, de uma hora para outra. E sem razão. Sem um telos, sem finalidade nenhuma. Tentar viver no caminho da Graça, de modo algum, evita que a Natureza (matéria cega, a finitude, a desgraça), nos esmague de uma hora para outra.




3) Tudo vai acabar, não importa o que você faça ou como tente evitar. Não temos para onde fugir. É disso que o padre nos fala (nos lembra). Acho que, em certa medida, o padre aponta para visão de Kierkegaard. Não dá para ancorar a existência na fruição estética, inventariar prazeres, porque essas coisas são efêmeras. Tampouco dá para ancorar-se em valores morais, no dever para com as ideias gerais. A única saída é saltar no Absurdo, afinar o coração no eterno. A transcendência.




4) Eu lhe dei um murro na cara sem motivo. O que mais agradou no filme (além do uso fabuloso dos monólogos, da fotografia exuberante, da narrativa fragmentada), é a possibilidade que Malick nos dá de pensar o laço entre pai e filho (Por que ele nos machuca, o nosso pai?), em relação aos laços das personagens com Deus (Onde estava tu?). É como se a paternidade fosse um castigo a ser espalhado.




5) De resto, penso que: se em Melancholia (Lars von Trier, 2011) a constatação da existência como mal aponta para o desaparecimento como única saída viável, em A árvore da vida a constatação é: o homem não é a causa (única causa) do mal e do sofrimento (uma ideia mais ou menos cristalizada). Se existe algo de bom no mundo (a Natureza, Deus, o Universo são indiferentes e fechados em si mesmos), o homem é a única causa desse bem. Precário, frágil. E fadado ao fracasso, claro.


2 comentários:

  1. Cara, pra combinar com este post:
    http://www.youtube.com/watch?v=SGQCX6xzX44&ob=av2e

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  2. Cara! Muito bom! Nem sei o que dizer, mas quando a gente gosta realmente de alguma coisa a gente precisa comentar.

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oi.