Porque
aconteceu muita coisa bonita nesses últimos dias. Eu queria escrever
uma coisa bonita agora. Mas eu sei dos meus limites. Logo
atravessaria a linha da ternura e cairia na fenda do ridículo,
como nessa frase que acabei de escrever.
E queria frases que
estalassem feito bombinhas no recreio, debaixo de tijolos e latinhas
de milho-verde voando enfumaçadas pro alto, cheirando a pólvora
vagabunda e repicando sete vezes nas pedras do pátio.
Alguma
coisa que farejasse o ruído da chuva quando desce sobre as pedras, lavando a areia.
Alguma coisa sobre quebrar ovos. Perder o ônibus porque
um outro ônibus quebrou na chuva.
Dizer que há uma lição ou um sinal nisso
tudo (não podemos controlar tudo).
Mas não
é bem isso. Não é nada de lição ou sinal pregado no céu, você
sabe.
Nada de
minutos de sabedoria, se bem que a gente não pode evitar.
Só
aprender a calar. É o segredo de quase tudo na vida. O complicado é
acertar na afinação do silêncio.
E acho
que os grandes caras que conheci nessa vida, não são aqueles que
têm algo a dizer sobre tudo.
São aqueles caras que sabem calar na
hora certa. E com estilo, é claro.
Nada mais
óbvio.
Aconteceu
de um cara me cercar na beira do balcão e falar que encontrou uma
carta que escrevi pra ele mandar pra uma namoradinha dele há uns 15
anos atrás. E o cara me disse que usou aquela mesma carta por anos.
Cambiava apenas os nomes das mocinhas e mandava.
Tenho pra
mim, que deve ser a coisa mais bonita que já escrevi na vida.
A coisa mais útil, pelo menos.
Porque o cara disse que a carta sempre
funcionou pra todas as meninas que ele mandou.
E pra menina que eu mandei (pra menina que tinha me
impulsionado a escrever aquilo), a carta nunca funcionou.
E talvez tenha sido esse
cômico desastre a me ensinar desde cedo que escrever não muda
nada no mundo. Não corresponde a demandas senão aquela demanda mesma que a gera. Sem mais.
Afinal, o que ganha o sol se autoaniquiliando por si mesmo com a constante demanda
de tristes poemas mal escritos?
Quando muito, um retrato falso e malacabado.
Ainda bem.
Aconteceu
da gente tomar uma chuva tenebrosa no alto da serra, você se lembra?
E as
meninas ainda tentando terminar de fazer a carne na chapa, enquanto
todo mundo juntava as coisas. Depois, eu fiquei reparando meu amigo
escalando a trilha com o filho nas costas, reparando na hora que ele pegou uma toalha, jogou sobre o corpo do menino, miúdo, os cabelos
ensopados, escalando. E descalço, porque ele não podia
molhar o tênis, ia jogar bola mais tarde.
E sabe
que tinha alguma coisa muito bonita ali, naquela chuva caindo sobre
eles ali no meio daquela serra? Mas não disse nada a você. Não
disse nada, porque talvez eu achasse que o legal era não dizer.
Nunca é fácil construir diálogos interessantes, principalmente na
realidade.
Mas tinha alguma coisa, uma dessas coisas que não dá pra dizer. Dessas coisas que talvez você, eu, todo mundo sente exatamente o que é.
Não se explica. E não precisa explicar pra funcionar ou entender.
Não se explica. E não precisa explicar pra funcionar ou entender.
Como
respirar. Ou digestão. Alguma coisa assim.
Digeri. Parabéns.
ResponderExcluir"O complicado é acertar na afinação do silêncio."
ResponderExcluirvc QUERIA escrever uma coisa bonita??? pára, né, velho... Senti o cheiro da chuva, se quer saber. Q ódio!
ResponderExcluiriuplPLreiioprfnm [url=http://movedto.info/jcpenneycoupons]jcpenney coupon codes[/url] agunnandcncsd
ResponderExcluirEscrever pode não mudar o mundo externo ao leitor...
ResponderExcluir"E talvez tenha sido esse cômico desastre a me ensinar desde cedo que escrever não muda nada no mundo. " Eita, que muda sim heim! A gente é que não consegue capturar direito onde tudo isso reverbera no outro. As vezes nada, as vezes muito. Resta a nós apenas "essa pequenina luz indecifrável
ResponderExcluirA que às vezes os poetas dão o nome de esperança." (Vinicius de Moraes). :)