Mesmo saindo vencedor do Grand Prix em Cannes no ano passado, não é provável que se vejam filas nas salas de cinema para apreciar o novo filme dos Irmãos Coen. Inside Llewyn Davis – A balada de um homem comum não traz muitas recompensas ao espectador médio, acostumado com enredos pedagógicos e histórias edificantes. Mas com certeza o filme é um alento para os fãs dos diretores Joel e Ethan Coen e deve agradar também os espectadores menos afoitos.
Álbum de Van Ronk, um dos artista que inspirou o roteiro |
Llewyn Davis (Oscar Isaac) é um músico folk sem dinheiro nenhum e que tenta reconstruir sua carreira após a morte do seu parceiro. Ele mal tem onde dormir e passa as noites saltando de sofá em sofá, contando com a boa vontade de amigos e conhecidos. A história poderia ser a de Bob Dylan ou de muitos outros músicos que vagavam por Nova York nos 60 em busca de sucesso, matando um leão por dia e sem nenhuma perspectiva de futuro. A diferença é que Llewyn Davis é um desses músicos que ficaram pelo caminho, atropelado por pelo próprio azar ou pela falta de sorte.
Na primeira cena já dá para saber do que se trata. O inverno castiga a cidade e Llewyn toca em um pequeno bar para um público modesto. Depois do show, ele recebe o recado que um o homem o está esperando nos fundos. Poderia ser uma proposta de gravação ou oferta de um novo show, mas não é. Llewyn é espancado e fica caído, sozinho, sem ninguém para ajudá-lo. Está aí a síntese do filme.
Os Irmãos Coen já têm algumas estatuetas na carreira, pelo roteiro original de Fargo (1996) e pela adaptação de romance de Cormac Mccarthy, No Country for Old Men (2007). Inside Llewyn Davis foi indicado a dois prêmios técnicos no Oscar desse ano: fotografia e mixagem de som. O som é de uma nitidez impecável durante todo o filme e atinge níveis espetaculares na cena em que Davis participa da gravação de um single com Jim (Justin Timberlake). Dá para ouvir com clareza os arranjos instrumentais e os nuances das vocalizações que tornam a passagem hilária.
O albúm de Dylan já havia servido de inspiração para uma cena de Vanilla Sky. |
A fotografia, por sua vez, é de encher os olhos. Ela foi inspirada na capa do álbum The Freewheelin' Bob Dylan, o segundo álbum de estúdio do cantor. Na capa, Dylan e sua namorada a época, Suze Rotolo, caminham por Greenwich Village, e se abraçam para aplacar o inverno de Nova York. A capa do disco de Dylan serviu de inspiração para o diretor Bruno Delbonne. Inside Llewyn Davis foi derrotado nas duas categorias pelo didático Gravidade.
A grande inspiração dos Irmão Coen para o roteiro foi o músico Dave Van Ronk, que morreu de câncer em 2002, aos 65 anos. Ele é considerado um mentor entre artistas daquela época. É citado como referência para astros como Joan Baez, Joni Mitchell e o próprio Dylan.
Há mais ou menos uma década, vagava pelo e-Mule uma animação não oficial para Pipe Dreams, do Travis. Brincávamos que a vida do coelhinho do desenho era o grande pesadelo em vida. Llewyn Davis é quase isso. A desconstrução de um sonho. A celebração do fracasso.
Há mais ou menos uma década, vagava pelo e-Mule uma animação não oficial para Pipe Dreams, do Travis. Brincávamos que a vida do coelhinho do desenho era o grande pesadelo em vida. Llewyn Davis é quase isso. A desconstrução de um sonho. A celebração do fracasso.
Espetáculo!
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