23/04/2014

Histórias de amor para se ver no escuro



É provável que Her (Spike Jonze, 2013), filme que levou a estatueta de melhor roteiro original no Oscar, transforme-se numa daquelas obras clássicas usadas por jovens professores universitários como ferramenta pedagógica para discutir o vazio das relações humanas nas grandes metrópoles contemporâneas num mundo cada vez mais conectado. Paciência. Nada pode ser feito a esse respeito. Porque é claro que essa pequena obra prima vai muito além de qualquer papagaiasse filosófica e discussões sobre solipsismo. O amor vivido por Theodore (Joaquin Phoenix) e Samantha, um sistema operacional que simula a consciência humana, soa genuíno. O amor puro, para além do corpo. Uma fantasia irrealizável e absurda. Como qualquer história de amor.

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Muito se falou sobre a questão homoafetiva em La vie d'Adèle (Abdellatif Kechiche, 2013), filme vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes de 2013. É provável que se transforme num clássico do gênero. Mas o filme vai além. É curioso como ao longo do romance a incompatibilidade de personalidades e interesses entre o casal vai minando a relação. Desde aquela conversa sobre Bob Marley e Sartre, ou dos jantares nas casas dos pais, já estava anunciado a impossibilidade de ir em frente. O amor transcende o corpo – mas é incapaz de resistir a perspectivas de mundo inconciliáveis.

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Hoje eu quero voltar sozinho (Daniel Ribeiro, 2014) é um desses casos de filme brasileiro que merece ser celebrado e incensado. Há um cuidado especial com a fotografia, com a trilha. E o desenvolvimento das personagens é digno de um diretor experiente. Nada daquele tom pasteurizado Globo filmes e longas com clima de telenovela. O roteiro de Daniel Ribeiro mergulha no universo de nostalgia e confusão que é a adolescência. O protagonista é um garoto cego envolvido em um triângulo amoroso e que se descobre homossexual ou bissexual. Mas não há vitimização. A abordagem é otimista, como são otimistas as perspectivas de um adolescente em relação ao mundo e ao amor.

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