24/09/2010

Fábula do suicida


Segundo um antigo livro de fábulas dos gentios, a pena mais terrível do inferno (conferida especialmente aos suicidas) é montar quebra-cabeças de rostos humanos. O espectro é acorrentado a uma mesa e tem de efetuar o trabalho de encaixar peças para evitar torturas maiores (agulhas quentes entalhadas nos olhos, marteladas nos tornozelos, mergulho na câmara das vespas ou no fosso das serpentes). À medida que cada peça é encaixada e o rosto vai tomando forma, a alma do espectro no inferno se aproxima da alma do vivo ao qual o quebra-cabeça se remete. Compartilham sentimentos com tamanha reciprocidade como se fossem donos de um mesmo e único coração. Quando o condenado assenta a última peça, o dono do rosto no quebra-cabeça é acometido por uma inquietação tremenda, um vazio e dor tão terríveis, que não vê saída e comete suicídio.

*******

7 comentários:

  1. O Neil Gaiman também fez um conto sobre a estadia no inferno, eu postei em um blog antigo colocando em comparação com um texto do C.S.Lewis. Dá uma olhada:

    http://obacamarte.blogspot.com/2008/08/dois-textos-pro-leitor-perspicaz.html

    ResponderExcluir
  2. Nossa! Interessantíssima! Adorei a fábula! Muito boa!

    ResponderExcluir
  3. Não devia soar tão bonito, mas soa. Donde se conclui o mérito da tua escrita.

    Um abraço,

    ResponderExcluir
  4. Muito legal a fabula e o lance do inferno!

    Tenho um especial no meu blog chamado "diario de um louco". Poderia postar o seu post? Com os devidos créditos.

    OBS: Tbm tenho formiga no meu blog, mas as minhas ainda não aprenderam a andar rsrs

    ResponderExcluir
  5. Pankwood, pode copiar sim, desde que colocados os créditos e se possível linkar para post original.

    Até

    ResponderExcluir

oi.