07/11/2011

Sr. Walkman



Todo lugar tem seus personagens exóticos. Em Luminárias, há muitos. E ontem me lembrei de um sujeito que andava com um rádio debaixo braço. Antena em riste. Volume alto.

Às vezes era indo pro ribeirão que topava com o sujeito. Ele ia à beira da estrada, numa toada contemplativa - o rádio no colo, trabalhando sereno.

Não era partidário dos fones de ouvido (pra isso bastaria adquirir um walkman, que era o que existia na época). Mas não. Usava um motorádio, com o volume sempre no talo. Era como um desses carros cheios de equipamento de som a zanzar por aí. Compartilhando seu gosto musical com todos que cruzassem seu caminho.

Algumas vezes, voltando pra casa de madrugada, eu ouvia uma música se aproximar por detrás de uma esquina. Então topava com o sujeito. Tranquilo, sintonizando a estação, espantando os chiados à medida que avança.

Sempre sozinho.

Outro fato curioso, embora faça muito sentido, é que o sujeito costumava frequentar com assiduidade os pontos mais alto da cidade. Nalguma vezes, ia até o Morro do Cristo, tentar ampliar ao máximo a capacidade de recepção do aparelho.

Dá pra imaginar: fosse visível ao olho do homem, as ondas, arrastando a beleza triste das modas caipiras, iam cobrir o céu - um céu de Monet. Vento na cara, sorriso largo, empunhando a antena enquanto ia passando delicadamente de uma estação pra outra, como quem pintasse um quadro.

Há uma grande ternura quixotesca nisso tudo.

Costumava ser motivo de risada na cidade. Afinal, parecia não se importar muito com as coisas, exceto com seu rádio. Ou era meio maluco, é o que todos diziam. É o que todo mundo diz quando alguém segue o próprio rumo.

Pra mim, esse sujeito sempre foi uma espécie de walkmam em pessoa. 

Faz muito tempo que não o vejo, e nem sei mais se mora por aqui. Mas se descesse pela rua à noite, e ouvisse um rádio chiando, acho que ficaria feliz.

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