Todo lugar tem seus personagens exóticos. Em Luminárias, há muitos. E ontem me lembrei de um sujeito que andava com um rádio debaixo braço. Antena em riste. Volume alto.
Às vezes
era indo pro ribeirão que topava com o sujeito. Ele ia à beira da
estrada, numa toada contemplativa - o rádio no colo, trabalhando
sereno.
Não
era partidário dos fones de ouvido (pra isso bastaria adquirir um
walkman, que era o que existia na época). Mas não. Usava um
motorádio, com o volume sempre no talo. Era como um desses carros
cheios de equipamento de som a zanzar por aí. Compartilhando seu
gosto musical com todos que cruzassem seu caminho.
Algumas
vezes, voltando pra casa de madrugada, eu ouvia uma música se
aproximar por detrás de uma esquina. Então topava com o sujeito.
Tranquilo, sintonizando a estação, espantando os chiados à medida
que avança.
Sempre sozinho.
Sempre sozinho.
Outro
fato curioso, embora faça muito sentido, é que o sujeito costumava
frequentar com assiduidade os pontos mais alto da cidade. Nalguma
vezes, ia até o Morro do Cristo, tentar ampliar ao
máximo a capacidade de recepção do aparelho.
Dá pra imaginar: fosse visível ao olho do homem, as ondas, arrastando a beleza triste das modas caipiras, iam cobrir o céu - um céu de Monet. Vento na cara, sorriso largo, empunhando a antena enquanto ia
passando delicadamente de uma estação pra outra, como quem pintasse um quadro.
Há uma grande ternura quixotesca nisso tudo.
Há uma grande ternura quixotesca nisso tudo.
Costumava ser motivo de risada na cidade. Afinal, parecia não se importar
muito com as coisas, exceto com seu rádio. Ou era meio maluco, é o
que todos diziam. É o que todo mundo diz quando alguém segue o próprio rumo.
Pra mim, esse sujeito sempre foi uma espécie de walkmam em pessoa.
Pra mim, esse sujeito sempre foi uma espécie de walkmam em pessoa.
Faz muito
tempo que não o vejo, e nem sei mais se mora por aqui. Mas se descesse pela rua à noite, e ouvisse um rádio
chiando, acho que ficaria feliz.
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oi.