II
O Caixa D’Água morava na minha rua.
Casa da esquina, sem reboco. E cheia de entulhos.
Velhas mãos de dedos compridos. Fina. Pele encardida de sol. Passava a maior parte do dia com as pernas estiradas na calçada. E o eterno cigarro na boca, as chinelas jogadas de lado, cercado por restos de garrafa pet.
Casa da esquina, sem reboco. E cheia de entulhos.
Velhas mãos de dedos compridos. Fina. Pele encardida de sol. Passava a maior parte do dia com as pernas estiradas na calçada. E o eterno cigarro na boca, as chinelas jogadas de lado, cercado por restos de garrafa pet.
Vez ou outra fazia um carrinho, uma boneca. Coisa do tipo. Uma cesta de Natal fora de época.
Mas, no sempre, a especialidade eram os cataventos.
Vendia pouco. Quase nada. E os cataventos terminavam empilhados no quintal. Equilibrados em podres cabos de vassoura. Rangendo. Enfiados na ponta de bambus, na cerca de taquaras ressecadas.
Chamavam o Caixa D’Água de Caixa D’Água por conta da cabeça.
Inversamente proporcional as canelas miúdas, aos ombros espremidos no peito, guardando a tosse sistemática.
Inversamente proporcional as canelas miúdas, aos ombros espremidos no peito, guardando a tosse sistemática.
A cabeça do Caixa D’Água parecia uma caixa d’água male ou meno equilibrada num pescoço de borracha. Meio solta no vazio. Um catavento que desejasse escapar.
Boiando sobre o corpo.
Boiando sobre o corpo.
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oi.