O ano é 2010. O Brasil era um dos favorito pra Copa com o tal do Luis Fabiano e do Felipe Melo e eu desembarco em Porto Alegre em março com uma mala cheia de roupas e sem pijama. Tinha quinhentos reais trocados em notas de vinte, um esqueiro bic amarelo e um maço de Luxor amaçado e um pedaço de papel dobrado com o endereço de um boliviano que vivia em Canoas e iria me hospedar por uns tempos ao valor de cento e vinte reais por semana. Tudo ótimo. Estava tão empolgado que tomei um porre monumental no Parangolé e cheguei trocando as pernas e perdi a chave da casa do sujeito.
Nem precisei pagar a primeira semana.
Nem precisei pagar a primeira semana.
Encontrei a chave, mas não conhecia ninguém na cidade. Passei a segunda noite num hotel no centro com clima de Linha Direta e enredo de música do Odair José até que encontrei uma pensão de família num apartamento sublocado onde moravam um músico gaúcho e um vendedor de creme de cabelo de cinquenta anos e um jovem advogado catarinense que estudava o dia todo pra um concurso de promotor. Não sei o que aconteceu com eles. Logo me mudei pra uma república na Lucas de Oliveira com a colega de curso que depois virou amiga e que fazia tapioca com salada quase todo dia e gostava de Alice Munro.
Ela é jornalista e tinha abandonado um emprego no Mato Grosso e a gente estava na cidade pra fazer a oficina de contos da PUCRS. Ela gostava do meu feijão mas quase nunca bebia o meu café ou uma dose sequer das garrafas de Ypioca limão que eu comprava na sexta-feira. O Luís também aparecia sempre pra discutir uns textos e beber umas cervejas e colocar alecrim nas batatas assadas no forno. Nunca li e escrevi tanto na minha vida. E foi nessa época que eu comecei a esboçar os primeiros contos que compõem Quebranto.
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Eu li o Luiz Vilela pela primeira vez há mais ou menos uns dez anos. O impacto foi forte. Lembro que pensei algo mais ou menos assim: “Eu conheço essas pessoas”. Até então acostumado a ler apenas literatura estrangeira, entre romances policiais e clássicos, era a primeira vez que encontrava personagens tão nítidos e vívidos que se confundiam com as pessoas que eu encontrava no cotidiano. O impacto foi semelhante quando li Amilcar Bettega, Carver e depois Alice Munro. Dentro do gênero conto, são os que mais gosto no momento.
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O título inicial do livro era Interior despedaçado. Os contos que eu vinha escrevendo ao longo do ano de 2011, 2012 e 2013 tratavam do mesmo ambiente e temas. Passei praticamente toda a minha vida no interior. É impossível que não haja influência. A ideia sempre foi explorar essas paisagens e personagens sem cair num discurso regionalista, provinciano e bairrista.
Mudei o título porque Quebranto é a palavra que melhor dialoga com a paisagem destes contos. Tanto no aspecto do interior geográfico como do interior psicológico.
Espero que gostem.
Mudei o título porque Quebranto é a palavra que melhor dialoga com a paisagem destes contos. Tanto no aspecto do interior geográfico como do interior psicológico.
Espero que gostem.
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