1) A melhor coisa do mundo seria se bastar a si mesmo. Na verdade, a melhor coisa seria nunca ter existido. Mas já que estamos aqui, se bastar a si mesmo estaria de bom tamanho.
2) Ficar sozinho e sem nenhuma
relação mais profunda com ninguém. O silêncio da água jorrando sobre a pia
enquanto você lava um prato, sozinho. Estirar-se no sofá porque não há ninguém
pra sentar do seu lado. Escolher o filme que você quer, sem atrito, no cartaz
do cinema ou na locadora, só com suas próprias dúvidas. E ninguém pra perturbar
seu sono na cama de casal grande e espaçosa. Nenhum barulho de passos na casa
sem ninguém, cheia de plantas. Cadeiras vazias. Vidros limpos e estantes brancas. E mais nada.
3) E se tudo correr mais ou menos
bem, uma hora ou outra, você vai sacanear quem você mais ama. Ou vai levar chumbo de quem diz te amar. E no fim, carregar um caixão e velar um
corpo. Ou ser velado por quem mais te ama. Em ambos o casos, sozinho.
4) A gente precisa da alteridade,
mas é uma alteridade apenas de identificação: "aquela pessoa não sou eu", em alguns casos: "ainda bem que aquela pessoa não sou eu". E mais
nada.
5) Mônadas opacas e fechadas, cuja
única coisa em comum é essa ilusão de estar vivendo ao mesmo tempo. Mas até o tempo tem o ritmo do dono do relógio. Por
isso há tanta assimetria. No máximo, estamos aqui vivendo vidas paralelas,
esbarrando nas arestas uns dos outros. Ninguém se comunica. Basta se aproximar
demais pra perceber o quanto não sabemos nada sobre ninguém. O quanto aquela
pessoa legal é estranha, irredutível. Fechada em si mesmo como uma pedra. O quanto você mesmo é uma pedra. E seja pelo filme em cartaz,
o estilo da música no rádio, a gente termina falando e falando, ouvindo
e ouvindo, batendo cabeça contra cabeça e percebendo que ninguém comunica nada.
6) Só monólogos em colisão.
6) Só monólogos em colisão.
7) Pedras entre pedras, batendo umas contra as outras.
8) E no fim, apenas o pó.
10) Ideal seria se bastar sozinho. Mas não dá.
8) E no fim, apenas o pó.
10) Ideal seria se bastar sozinho. Mas não dá.
"A gente nasce e morre só. E talvez por isso mesmo é que se precisa tanto viver acompanhado". Rachel de Queiroz
ResponderExcluirTô nessa 'vibe'.
ResponderExcluir8)"E no fim, apenas o pó".
ResponderExcluirGostei disso.
Bastar a si mesmo. Bela utopia.
ResponderExcluirMas gostar da própria companhia é um dom que poucos possuem.
é Marcos...
ResponderExcluir