Upgrade em 24/10
(contém spoilers)
Sabe aqueles filmes de terror que a gente vê (ou via ) e que na hora não assustam; mas depois, quando você está sozinho ou na hora de dormir, sempre voltam a sua cabeça? Mãos de cavalo (COMPANHIA DAS LETRAS: 2006) é, a seu modo, como esses filmes de terror. Provoca o mesmo efeito.
(contém spoilers)
Sabe aqueles filmes de terror que a gente vê (ou via ) e que na hora não assustam; mas depois, quando você está sozinho ou na hora de dormir, sempre voltam a sua cabeça? Mãos de cavalo (COMPANHIA DAS LETRAS: 2006) é, a seu modo, como esses filmes de terror. Provoca o mesmo efeito.
Agrado muito do jeito como o Daniel Galera escreve. E como sempre ouvi dizer por aí que o Mãos era o melhor livro do autor até o momento, criei certa expectativa sobre a obra, e talvez tenha sido essa expectativa que tenha afetado minha leitura.
Pela leitura de Dentes Guardados ( Livros do Mal: 2001) e Cordilheira, COMPANHIA DAS LETRAS: 2008) respectivamente, algumas coisas já eram esperadas quando iniciei o livro: excelentes descrições, visualidade da narrativa e sutileza ao lidar com a gradação do conflito; esses três pontos, a meu ver, são aquilo que Galera sabe domar com extrema propriedade e segurança. É impossível não projetar a imagem das gotas de sangue brotando no joelho esfolado do Ciclista Urbano; impossível não seguir a trajetória do vôo de Bonodo ao ser atingindo por Hermano na partida de futebol. Impossível não correr com Hermano para trás da mata e ouvir o som seco, abafado de chutes na cabeça. Impossível não sair alterado dessa experiência.
Impossível parar de ler.
Covardia. Omissão. Mentira; e junto destas coisas, a maldita câmera da consciência por detrás dos atos. A maldita câmera que nos acompanha por toda parte. Está sempre ligada, pronta a fechar um close. Quem escapa dela?
Mas não se engane, não é um livro moralista chato. A leveza e sutileza com que Galera consegue nos guiar através da história, que nos conduz junto dos personagens, a linguaguem ágil, atual, bem trabalhada, os nuances ao tratar das emoções, sempre veladas e presentes; refências culturais do final dos anos 80 e anos 90, todas essas qualidades, provocam imersão na história; aquilo de esquecer que estamos lendo um livro.
(spolier)
Porém, na minha primeira leitura ( porque, claro, releituras ao de vir), Mãos de cavalo seria um romance melhor ainda (já é muito bom), sem os monólogos de um cirurgião plástico junto à história de Hermano e sua turma. Sem essa tentativa de amarrar essas monologações numa decisão de mudar o rumo que, por coincidência, jogasse o sujeito diante de uma situação semelhante ao espancamento de Bonodo. Semelhante, porque Bonodo era "amigo" de Hermano; o guri que cruza seu caminho por acaso, é só um guri. E depois esse guri serve como desculpa para levar Hermano até Naira.
Claro, isso é uma perpecção de leitor, de uma leitura feita a partir de muita expectativa prévia. A bem da verdade, não é que a junção não exista (o sangue sujo, sangue novo), existe a junção, está amarrada da melhor forma possível, tecnicamente falando. É mais uma questão de feeling, não consegui sentir a junção da história. Penso, talvez, que tenha me apegado demais a história de Hermano jovem e não tenha conseguido atravessar para o outro nível, ou me envolver com a mesma intensidade. Pode ser.
No geral, Mãos de Cavalo é um bom livro, aliás, um livro muito bom. Principalmente por esse efeito pós-leitura; a experiência da covardia compartilhada entre leitor e personagem não nos deixa em paz: saímos do livro covardes. A experiência sempre volta, como volta toda boa culpa que carregamos. E não é qualquer autor ou obra que consegue nos provocar tal coisa.
Haha, adorei isso.
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