18/10/2010

CSI: fofoca


Outro dia, me veio a seguinte dúvida: qual tipo de blog mais expõe um sujeito? 

Os blogs cheios de desabafos, relatos cotidianos, poesia e crônica autobiográfica, diários cheios de intimidades; ou, por outro lado, aqueles em que o sujeito escreve sobre outras coisas, escreve sobre os filmes que viu, os livros que leu, política, sua série de tv favorita?

À primeira vista, o leitor pode achar essa dúvida ingênua. E o leitor tem razão. Num primeiro momento, nos parece, que o blog cheio de visceralidades, supostas confissões, desabafos, textos autobiográficos, coloca o sujeito nu na frente do leitor. Mas, convenhamos não é, leitor, você não precisa ser ofendido com um marmanjo pelado, com as tripas de fora, coração do avesso,  mesmo porque, essas veias abertas, essa nudez, exposição radical, não expõe quase nada; salvo raras exceções.

Num texto em que o sujeito fala sobre um filme que viu, um livro que leu, às vezes, é possível perceber muito mais coisas sobre esse sujeito do que em um texto confessional sobre dor de corno. No texto dor de corno, o autor não está ali, está ali um coitado auto-idealizado, moldado a partir de uma retórica que visa o causador daquela dor, que visa uma justificativa para si mesmo, está ali um simulacro, uma fantasia moldada a partir da suposta sinceridade.

Quanto mais visceral, íntimo e “sincero” é um texto, mais obscuro. A exposição é tão autoreferenciada, cifrada na própria experiência, que só entende o texto aquele que o escreveu, mais ninguém. Pra entender a verdade daquele texto, o leitor deveria passar pelas mesmas experiências que o autor, elaborar essas experiências da mesma forma; o que é, claro, impossível.

Por outro lado, os juízos de um sujeito sobre outra coisa, terminam por mostrar quem é esse sujeito, o que ele pensa, quais são suas preocupações, valores, preconceitos, muito mais do que qualquer relato confessional. Mais ou menos aquele chavão:

Quando Pedro fala de Paulo, sei mais sobre Pedro do que sobre Paulo.

Sempre fiz uso desse método nas fofocas. Costuma funcionar muito bem.

Pois, então.

Dia desses, o amigo A veio me dizer que o amigo B, no meio de uns porres, tinha dito a ele algo terrível. Que eu não acreditaria no que o amigo B tinha dito, a que nível o amigo B tinha chegado! A que nível! Logo o amigo B...

Ele, o amigo A, que me contaria as coisas que o amigo B tinha dito, primeiro se calou, como quem faz certo suspense, como se fosse revelar uma verdade por demais dolorosa e  precisasse se preparar. Soltou um longo suspiro, olhou nos meus olhos (que, aliás, não mostravam muito interesse) e disparou aquela barbaridade que o amigo B tinha dito, meio que imitando a voz do outro embreagado na ocasião:

“O que você ganhou na sua vida toda, amigo A, eu ganho num mês”.

Eu?

Emudeci. Continuei como estava.

O amigo A me encarou, os olhos vivos, esperava alguma opinião favorável, aguardava que me juntasse a ele numa análise obstinada sobre a que ponto tinha chegado o amigo B, nosso nobre amigo B! Esperava de mim, suponho, pelo menos um palavrão automático, um olhar de desdém, qualquer reação para corroborar à tese silenciosa que ele mantinha dentro de si.

Em silêncio, bati a cinza do cigarro.

"Não vai dizer nada?", ele insistiu.
"Cada um com seus problemas".
"Esclareceu muito..." e sorriu.

Estava decepcionado o amigo A. Não voltou mais no assunto e pouco depois foi embora. Quanto a mim, quando um sujeito vem me fazer uma fofoca, descubro mais coisas sobre o fofoqueiro do que sobre a vítima da fofoca.

*******

3 comentários:

  1. monk, vc sumiu, n te vejo nem no msn mais...
    vamos conversar nem q seja por mail... abraço, monk

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  2. Meu nome não é Jonny22 de outubro de 2010 às 09:40

    Meritocracia facts

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oi.