Mal assentada, torta, inclinada na direção da entrada do bar, despejando para dentro do bar à medida que chovia, forte, a calha mal assentada, muito alta, jorrava para dentro do bar e o dono do bar, nomeado João do Bar, tentava conter a enxurrada, jorrando para dentro do bar, à medida que chovia mais forte, cada vez mais forte, João do Bar lutava, munido daquele rodo velho, um pano de chão encardido, tentava conter a enxurrada jorrando através da fresta na base inferior da porta, sobre o piso de nata amarela, naquele bar à beira da estrada, entre Três Corações e São Tomé das Letras, João do Bar, com seu olho furado, tão cego quando o pedreiro que assentou aquela calha mal assentada, despejando para dentro do bar à medida que chovia cada vez mais forte, muito forte, mais intenso, com relâmpagos consecutivos, trovões vigorosos que estremeciam o vitrô ao fundo do bar, ameaçando estraçalhar o vitrô em dezenas, centenas de pedaços, à medida que chovia cada vez mais forte, mais grosso, com mais intensidade, à medida que a enxurrava se formava diante da porta do bar, por causa da calha mal assentada, naquele bar, à beira da estrada, entre Três Corações e São Tomé das Letras, João do Bar, o dono do bar, com seu rodo velho, borracha ressecada, um pano de chão ensopado, encardido, tentando conter a enxurrada que avançava, as calças ensopadas, cobrindo todo o piso de nata amarela, cada vez num volume mais intenso, num volume maior, contra aquele rodo que agora lhe parecia(ao João do Bar), algo ridículo, inútil, como os dois meninos em cima da mesa de sinuca, o maior olhando sair debaixo da porta, o menor com as mãos nos ouvidos, olhos piscando à medida que vinha um trovão, à media que chovia mais forte, a borracha do rodo riçando no chão, encoberta pela enxurrada que avançava, e o menino menor gritando, por causa dos trovões e também da violência do fluxo, cada vez mais forte, do vitrô tremendo, quase se partindo, e João do Bar, com o rodo na mão, caminhado em direção à porta, com o rodo na mão, aquela borracha ressecada, o pano encardido enrolado na ponta do rodo, jorrando por debaixo da porta, e João do Bar quase na porta, e empurrando a porta, com certo esforço por causa da força da enxurrada cada vez mais forte, cada vez mais intensa, jorrando por debaixo da porta, por causa da calha mal assentada, que a primeira pancada não conseguiu afetar(isso enfureceu o João do Bar), praguejou barulhos bestializados, urros no meio daqueles relâmpagos, da enxurrada que jorrava por suas coxas, que o menino menor viu lá de dentro, sem escutar, com os ouvidos tapados, gritando, ouvindo só os próprios gritos, vendo o flash dos relâmpagos, consecutivos, e as lascas do rodo partido, pela metade com a segunda pancada, e João do Bar tascando a mão na calha, jorrando nas coxas, para dentro do bar, o vitrô estremecendo com aqueles trovões, as veias do pescoço estufadas, puxando a calha, à medida que jorrava, a calha não saia (isso irritou muito mais o João do Bar), sentiu que aquela calha não ia sair, forçou ao máximo, a calha não arredava, estava muito bem assentada apesar do defeito, sentiu a velhice cair sobre seus braços, bufando, os trovões, seu olho furado, velho, um maldito de um velho, a enxurrada avançando para dentro do bar, avançando sem que ele(João do Bar, um velho), fosse capaz de conter, os meninos em cima da mesa de sinuca olhando o velho, incapaz de conter a enxurrada; desistiu.
Entrou no bar, sentou na mesa de sinuca, bufando ainda, resignado, roupa ensopada, escorrendo na testa, do cabelo encharcado, caindo da ponta da calça, à media que jorrava para dentro do bar, formando um lago.
Então desceu da mesa, o menino menor pregou os olhos nele, no João do Bar, que sumiu aos fundos do bar. Voltou com uma marreta. O menino menor acompanhado com os olhos; ouviu aquele barulho de lata retorcendo, três pancadas consecutivas, esgotando o fluxo a cada pancada; e o João do Bar arrastar aquela calha para o meio da estrada, erguer a marreta e bater, bater naquele pedaço de lata, três, quatro, cinco vezes, bufando, à medida que chovia, no meio daquela chuva, o vitrô tremulando, veia do pescoço estufada, batendo. Os meninos olhando aquilo. Olhando quando João do Bar parou de bater, a marreta dependurada no braço, ensopado, no meio da estrada, virou o pescoço para os meninos: quase sorrindo, escorrendo no rosto, cabelo, ensopado, quase mostrando os dentes, ofegante e suspirou(quase sem dizer): fédaputa.
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TENSO (no bom sentido).
ResponderExcluirFiquei curiosa para ler. Livro e blog, ambos.
ResponderExcluirOi, Isadora.
ResponderExcluirFico feliz.
Um abraço.
hahahhahahahaha nao existe maneira melhor de descarregar a alma...hahaha fedaputa...hahahaha! XDa fedaputa...hahahaha! XD
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