15/06/2011

amor é onde nós nunca estivemos: [n°3 intenções]


Desligou o telefone e a essa altura usando o tom de voz que soaria ridículo a um estranho, como o próprio tom de voz dele soaria ridículo a outro estranho, como o tom de voz dos dois soaria ridículo a um terceiro estranho, a manifestação do carinho coando o timbre da voz no telefone, que não expulsava de todo o tom áspero de ainda a pouco, pairava um ranço, mesmo pouco, mesmo quando, ela sorria e ele sorria de volta, o tom áspero do pequeno atrito de meia hora antes se prolongava, era a segunda vez naquele dia e por decisão dela, talvez mais sábia, mais calejada, interromperam a conversa naquele ponto que era o ponto mais tenso da conversa, onde nenhum dos dois abria mão de nada do que tinha dito, e ficavam cegos, não conseguiam passar para o outro lado, se é que conseguiam em algum momento passar para o outro lado, se é que existia tal coisa como um outro lado, por mais que se esforçassem e conversassem sobre isso quase sempre, os pequenos atritos que não eram graves mais surgiam vez ou outra, ele otimista nato tentando se defender dos seus defeitos, ingenuamente querendo ser o melhor possível era o que dizia, tentando sustentar as palavras das melhores horas para afastar esse ranço das piores horas, tentando recuperar as declarações espontâneas no silêncio escuro daquele quarto, tentando passar daquelas coisas que eles diziam a coisa prática efetuada, desejo de ser cada vez melhor e mais sensato ele dizia, e disse a ela que esses atritos os definiam, davam o limite daquilo mesmo que eles eram, e quando no meio da tarde ela ligou dizendo que tinha lido o artigo, uma coisa de trabalho sobre bebês e pensando nele, e que era ele então que ela queria ao lado dela, ainda que indagasse, depois de dizer tudo, se não era loucura pensar assim numa coisa dessas assim de cara, não como se escolhe um curso ou trocar de carro e financiar uma casa, ao que ele disse que ficava feliz de ouvir isso dela, no meio da tarde assim do nada ao ler o artigo, e tivesse se lembrado dele como aquele cara que ela queria ao lado dela, e ele pensou que aquele dia era um dos melhores dias, como uma surpresa dessas caía bem assim do nada, assim do nada como eles se conheceram e avançaram. Desligou o telefone e ficou pensado nessas coisas assim do nada, como questionar o ponto de vista dela irredutível (ele ou ela), o que era de fato uma coisa ruim de se fazer assim logo de cara, talvez pior do que se omitir e se calar resignado, tentando recuperar o tom escuro e silencioso daquele quarto, e não entendia porque alguma coisa dentro dele disparava, decidia automática que questionar e irredutível era o melhor, como um daqueles caras que ele leu um tempo antes, que escrevera nunca se escolhe o mal mesmo quando equivocado, ao que um ditado popular ironizou pulverizando: bem intencionadas apenas as caldeiras do inferno fervem vigorosas, desde sempre lotadas.



Um comentário:

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