Noto um discurso exageradamente empolgado sobre a impossibilidade de amar se alastrando; um discurso contrário ao afeto desinteressado, um discurso contrário à relação construída com honestidade e lealdade virando hit da geração.
Parece coisa de gente boba (amor, afeto desinteressado, honestidade, lealdade), coisa fora de moda, coisa de gente ingênua demais pra sobreviver nesse universo habitado só por pessoas expertas e sensatas, a tal da vida real (ou seja, ideal).
Parece coisa de gente boba (amor, afeto desinteressado, honestidade, lealdade), coisa fora de moda, coisa de gente ingênua demais pra sobreviver nesse universo habitado só por pessoas expertas e sensatas, a tal da vida real (ou seja, ideal).
Muitas vezes esse discurso vem de uma experiência dolorosa. A pessoa levou lá seu pé na bunda (e todo mundo leva lá seu pé na bunda) e agora catequiza os índios ingênuos sobre a impossibilidade do estar feliz, da afeição construída sem artimanhas; porque, afinal, dizem, toda relação é falsa e o amor é uma grande ilusão.
É sempre um discurso clichê (amor é uma grande ilusão) com viés de crítica antropológica; do tipo, fomos educados pra experimentar a realização pessoal através de uma relação e, claro, precisamos nos emancipar dessa necessidade arcaica que é amar sem querer nada em troca. Companheirismo gratuito, compartilhar da felicidade alheia, nunca é visto com bons olhos. Na cabeça dessas pessoas, tem sempre alguma sujeira debaixo do tapete.
Encaram o parceiro já torcendo o nariz, como quem encara foto de deputado na urna eletrônica.
Encaram o parceiro já torcendo o nariz, como quem encara foto de deputado na urna eletrônica.
Mas dá pra ver que essa retórica supostamente analítica é desde sempre uma retórica arraigada na defesa de si próprio. Se as minhas relações não deram certo, logo, não existe relação possível.
E a coisa não é por aí, malandro.
Cada um se vira como pode, e isso não é coisa pouca.
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oi.