04/11/2010

Bartleby e companhia, Enrique Vila-Matas




Profundamente abalado pela leitura dessas notas de rodapé de um texto invisível: Bartleby e companhia, Vila-Matas (Cosac Naify, 2004)

Tudo bem, é um daqueles livros sobre escritores e para escritores, ou para leitores com aquela paciência para metaliteratura. Se você não tiver paciência para essas conversas de sala de estar da literatura, não recomendo (apesar que a habilidade narrativa de Vila-Matas em passar do erudito ao cômico, do desespero à piada, e vice-versa, garante a leveza da leitura). Li de uma sentada.

O livro é narrado em primeira pessoa por um sujeito corcunda, feio, que publicou um romancezinho sobre a impossibilidade do amor e ficou vinte e cinco anos sem conseguir escrever. Os capítulos são organizados como um diário, cheio de citações, é quase um tumblr desses mais cults.

Bartleby e companhia é um livro sobre não escrever um livro. Sobre a pulsão negativa da escrita, a síndrome de Bartleby(preferiria não fazer); a caça desse solitário sujeito por bartlebys; um minucioso e divertido inventário sobre escritores reais e inventados que abandonaram à escrita ou que nunca escreveram; sobre escritores que passaram  pela vida assombrados pelo grande livro que nunca foram capazes de escrever, escritores que rejeitaram a própria obra, que isolaram-se do mundo, escritores obcecados pelo silêncio e pela incapacidade das palavras em transmitir qualquer coisa.

Contudo, uma investigação sobre o não escrever é, fundamentalmente, uma investigação sobre o escrever, sobre o porquê da literatura, sobre por que escrever: “o normal é ler”, e escrever é meio que o desvio. Nada melhor que organizar o livro nas citações; nada melhor para evitar (sem evitar) a escrita do que a citação e o comentário. A citação é aquilo que permite estar próximo da escrita e ainda sim negá-la, afinal:  

citar é quase escrever, sem escrever 
comentar é escrever, quase sem escrever.

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(sobre a arte de citar, um bom texto do escritor Pedro Maciel na Germina: aqui )

Um comentário:

  1. "Von einem gewissen Punkt an gibt es keine Rückkehr mehr. Dieser Punkt ist zu erreichen." Kafka

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oi.