17/02/2011

Paranóia de macho

Àquela altura da conversa

      (antes, quando saltaram do ônibus, numa conversa de necessidade imediata, decidir que rumo tomar, afinal, como era a terceira vez que saiam, não existia aquilo que pudessem chamar de favorito, então, caminharam  pela rua cheia de bares esperando que o impulso os guiasse, ou que, entre as duas, talvez três dezenas de bares, algum oferecesse algo especial naquela noite, um desses músicos blasés compenetrados, despejando acordes e escalas virtuosas de uma ponta a outra do instrumento, ou um cardápio especial, alguma promoção de destilados; e foi ali, à procura desse lugar, quando o assunto tinha desaparecido, que o nome do sujeito veio pela primeira vez; e o homem, então, fingiu não ouvir e prosseguiram; era uma conversa banal, e talvez tenha sido um ato falho da mulher, ou nem isso, pensou o homem, afinal não havia mais nada, a mulher tinha deixado claro nas noites anteriores, mas o homem não tinha muita certeza, desde a primeira vez que se falaram desconfiara da sombra que a mulher jogava às costa da própria vida, do passado que ela chamava de doloroso; embora estivesse curioso por saber o que tinha de fato acontecido, estar ciente dos detalhes talvez para afastar qualquer chance de erro recorrente, ou ainda, para estar ciente, naquele egoísmo tão comum entre a maioria dos homens, de que o sujeito anterior, mesmo ciente que se tratava efetivamente de caso encerrado, não oferecia nenhum tipo de ameaça) 

o homem tocou no assunto.

Disse para mulher, não sei se você percebeu, mas você falou o nome do seu ex, ali, quando a gente tava procurando um bar. A mulher disse, nossa, não percebi, falei? Nossa, não percebi mesmo! Mas veja, disse o homem, não digo isso por nada, eu só achei engraçado, porque você nunca tinha falado, achei engraçado. É engraçado mesmo, disse a mulher, não percebi mesmo. Que coisa! Mas o que foi que eu falei? O homem deu uma risada, bebeu um gole, jogou os ombros pra trás e disse que não tinha nada de especial, só engraçado mesmo. Mas como foi que eu falei? Não me lembro mesmo. Nossa, que cabeça a minha. Será que já tô bêbada? Hahahaha! Tanto tempo que eu não bebo, cara. Fala, vai! O que foi que eu falei? O homem acendeu um cigarro, espantou a fumaça do primeiro trago e disse, bom, eu falei que a gente devia ir naquele bar mais sossegado e tal, que lá é mais tranquilo, aquele segundo barzinho lá na esquina, que não têm mesas na rua, meio escondido pra dentro do prédio, lembra? Daí você disse, brincando, rindo, ah, não, pelo amor, tá parecendo o Rafael, vamos pra um lugar mais animado, eu gosto de lugar que tem gente, de lugar animado! Bom, daí, na hora, eu tive o impulso de perguntar quem era Rafael, mas... bom, não precisa, não é? Cara, não lembro! Falei isso mesmo?, disse a mulher. Falou, disse o homem. Pior que falou... mas eu não me importo com isso, é sério! Não me importo. Você me já explicou que não tem mais nada a ver e tal, e eu tô de boa, sem perguntar nada... mas, de toda forma, achei isso engraçado, você soltar essa comparação, assim, do nada. Que coisa, disse a mulher, mas sabe o que me deixa mais preocupada nisso? Não, disse o homem. Eu não conheço nenhum Rafael, disse a mulher. O nome do meu ex- é Adriano.

2 comentários:

oi.