02/02/2011

"Deus, política e óculos escuros"

A troca de e-mails entre André Conti e Daniel Galera no blog do IMS, tá sensacional:


"É mais ou menos a sensação que tive durante meses antes de ir a Garopaba, e que resultaram na própria ideia/decisão de vender tudo e me mudar pra Garopaba, onde eu não conhecia ninguém e poderia nadar no mar todo dia de manhã cedo. Todavia, dessa vez não há uma ideia/destino como Garopaba, somente a sensação urgente de isolamento e dedicação total a algo sem sentido – no caso, o principal “algo” é terminar meu livro.

Contemplo com muita seriedade a ideia de erradicar minha presença em sites e redes sociais de qualquer espécie, e a sensação se estende também para os eventuais (e precários) relacionamentos com mulheres e a uma parte dos amigos, mas não se estende à família e aos amigos mais queridos. Não farei nada disso, obviamente, mas a sensação tem sido tão frequente que já desenvolvi um mecanismo de defesa que entra em ação no mesmo momento e me impede de tomar as atitudes descritas, e pela manhã, ou ao passar o trago ou sumir a consciência das fragilidades do ego, me sinto grato por ter tido a presença de espírito de não tomar nenhuma atitude precipitada, infantil, egoísta e patética. Todavia, em seguida aflora a consciência de que esse conjunto de atitudes precipitadas, infantis, egoístas e patéticas seriam exatamente as mais recomendadas, corretas e sinceras com relação ao meu propósito na vida nesse momento – escrever – e a um temperamento que continuadamente renega a interação social constante e as proximidades afetivas, embora no fundo as ligações afetivas em minha vida existam e sejam fortes, mas como que operando num nível aquém da experiência cotidiana ou mesmo da experiência possível.

É muito estranho, como se eu precisasse continuadamente lembrar que a solidão deve ser apreciada porque é a minha natureza, mas se é a minha natureza, porque eu deveria me lembrar conscientemente disso com tanta frequência? Tenho a sorte de conhecer minha natureza em profundidade, mas o azar de considerar duro e lamentável demais levá-la a cabo em plenitude, então vivo no meio do caminho, sem esquecer do mergulho radical que nunca darei, e ocasionalmente tirando proveito de certas condutas sociais que me exigem esforço tremendo e são contrárias ao chamado “ser vital”. Há em algum lugar essa promessa não cumprida que me assombra diariamente.

Tem alguma coisa aí, mas não sei direito o que é."

Daniel Galera, Deus, política e óculos escuros. Inblog do IMS


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Um comentário:

  1. Cara impressionante como ele falou tudo no que venho pensando ultimamente...hehe

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oi.