09/02/2011

Diapasão

“Muitos escritores afinam o ouvido para a prosa começando o dia com uma leitura estimulante, um pouco de prosa perfeita. 'Leio alguma coisa', diz Maya Angelou, 'talvez Salmos, talvez algo do Sr. Dubar, de James Weldon Johnson. E me lembro de quão bela, quão maleável é a língua, de como ela é prestativa. Você a manipula e ela diz 'Tudo bem'. Lembro-me disso quando começo a escrever”. Mary Gordon tem um elaborado ritual: “Antes de levar a caneta ao papel, leio. Não consigo começar meu dia lendo ficção; preciso do tom mais íntimo das cartas e dos diários. Desses diários e dessas cartas – material de primeira mão – copio algo que tenha estimulado minha fantasia... Mudo para Proust; três páginas em inglês, e as mesmas três páginas em francês... Depois passo para ficção que estou lendo seriamente, aquela que estou usando como diapasão, aquela de que preciso para encontrar o tom que vou adotar na ficção que estiver escrevendo no momento... Copio parágrafos cujo peso e cadência possam me ensinar alguma coisa. Há dias, quando estou com sorte, em que o próprio movimento da minha mão, como uma espécie de dança, começa outro movimento que me permite esquecer a presunção, a insensatez daquilo que sou”. Paul Johnson, um dos mais fecundos ensaístas ingleses, recorre a certos mestres para atender a certas necessidades. “Todo escritor tem seus estimuladores em prosa. Os meu são a Bíblia do rei James, Bacon, Milton e Hobbes. Alguma coisa de Swift e Hazlitt, um pouco de Gibbon, as cartas de Byron, sempre. Leio Jane Austen por causa de suas ironias sutis, tão maravilhosamente sob controle, e também por sua capacidade de fazer a história avançar com rapidez sem nunca perder o fôlego”

“Oficina de escritores: manual para a arte da ficção”, de Stephen Koch, tradução de Marcelo Dias Almada (Editora Martins Fontes: 2008) p. 153-154

Um comentário:

oi.