Já é quase assunto velho, mas o Strokes soltou, 9 de fevereiro, o single, Under Cover of Darkness, que faz parte do novo disco, Angles que está preste a vir (21 de março). Tenho uma dívida emocional com Strokes, meio patética, daquelas coisas regadas a nostalgia e momentos estranhos. Ouvir Last Night pela primeira vez (já faz dez anos), naquele programa cheio de afetação da Rede Minas, o Alto-falante e pensar que porra é essa! Lembro de uma fita que gravei para o Luigi, em que Last Night era a primeira faixa. Depois ouvimos muito essa fita; e ouvimos mais ainda um cdzinho (naqueles sony que descolavam a mídia ou costumavam mofar) que trazia essa mesma coletânea com algumas modificações. E como ouvimos Strokes! Na época da banda, embora a música não estivesse no repertório, bastava um intervalo qualquer e já começamos a brincar, depois tocar sem vocal, eu, Luigi, o Abacaxi. Que fase! Mas, na últimas vez que tocamos juntos, já em outra banda, a última banda, numa tarde de julho, de ressaca e num calor desgraçado enquanto motoqueiros zanzavam de um lado ao outro, finalmente tocamos Last Night inteira. Com vocal, solos e riffs bem destribuídos e bem ensaiados, embora eu tenha atrasado um intervalo na entrada do solo.
Mas os momentos estranhos são muitos. Como Hard to Explain tocando na TV 14 polegadas naquele programa A Cor do Som da Rede Minas nas madrugadas regadas aos sinos de São João del Rei. Ou ainda, The Modern Age virando uma cachaça no Ribeirão da Ponte, ou no extindo Bar do Serginho.
Room On Fire faixa a faixa no fuscão vermelho do Dodinho, sudindo a serra de São Tomé, à noite, a garrafa de rum, ou o conhaque limpando a garganta da poeira festa de São Bento, ou a vodca espantando o frio da Festa da Fogueira de Ingaí.
Já mais à frente, quando bêbados, pedíamos as meninas que pedissem aos caras das bandas que tavam tocando, que tocassem Strokes; e se acontecesse, era um pequeno surto de alegria idiota e ingênua, que me parece tão distante que não consigo entender qual era a graça daqueles pulos e porres. Fica mais a sensação de bom, sem saber exatamente por que era bom. E talvez não houvesse mesmo o porque de ser bom, e por isso era como era, como são a maioria das coisas, principalmente os pequenos ídolos que erguemos diante de nós mesmos, pra ter no que se agarrar. Afinal ser jovem nada mais é que ter o direto de acreditar nas próprias fantasias e pequenas bobagens, como aquele discurso de aproveitar a vida e coisa e tal.
Da trindade de bandas que serviram de trilha para os últimos dez anos da minha vida (Interpol, Radiohead), Strokes foi o show que ainda não fui.
De toda forma, essa nova música dos Strokes soa como som velho, já nasce envelhecida; como se essa canção já estivesse lá, tocando lá nas madrugadas de São João del Rei sob os sinos, nas noites de sábado que eu o Dandan ficávamos à janela espiando as águas escuras da piscina do Atletic, ou lá na casa Verde do IAPI, ou lá no Matozinhos, ou nessa labiríntica Luminárias do passado, cheia de fases, etecétera, etecétera.
Troço doido esse trem de nostalgia. Uma musiquinha inofensiva e... enfim.
"Me vestir, saltar da cama e fazer o melhor.
Tudo certo?
Eu estive andando longe desta cidade
E todo mundo continua cantando a mesma música há dez anos.
Eu vou esperar por você.
Você vai esperar por mim também?"
"Get dressed, jump out of bed and do it best.
Are you OK?
I've been out around this town
And everybody's been singing the same song ten years
I'll wait for you.
Will you wait for me too?"
Tudo certo?
Eu estive andando longe desta cidade
E todo mundo continua cantando a mesma música há dez anos.
Eu vou esperar por você.
Você vai esperar por mim também?"
"Get dressed, jump out of bed and do it best.
Are you OK?
I've been out around this town
And everybody's been singing the same song ten years
I'll wait for you.
Will you wait for me too?"
Strokes é o Creedence Clearwater Revival da nossa época (pra mim). Ouvir aos 50 anos (distraídos venceremos) no churrasco nostalgia e fazer dancinha empolgada numa vibe rock brega, depois, soltar o discurso "no meu tempo que tinha música", etc etc.
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De toda forma, PJ Harvey lança novo CD em Paris, com transmissão ao vivo
Bom demais. Bom ter tido "um pequeno surto de alegria idiota e ingênua". Isso se escasseia de tal forma com o passar dos tempos que ter algum dia vivido isso já é fabuloso, e a lembrança, com nostalgia, prova isso.
ResponderExcluirEu fui ao show dos Strokes, mas não ao do Interpol. (Comentário meio perdido esse final, rs.)
(perdido nada, fiquei com inveja boa desse show dos Strokes que você foi. De toda forma, nostalgia é um troço muito estranho.)
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