Ontem eu tava lendo “Oficina de escritores: manual para a arte da ficção”, de Stephen Koch, tradução de Marcelo Dias Almada (Editora Martins Fontes: 2008). É um livro divertido e me fez pensar numa porrada de coisas.
Stephen Koch lecionou durante vinte e um anos escrita criativa na pós-graduação da Universidade de Columbia e durante sete anos na graduação da Universidade de Princeton. Ainda não terminei o livro, mas, até o momento, Koch não citou quem foram os alunos que passaram por ele, se algum realmente foi bem sucedido após frequentar suas oficinas. Fiz uma rápida pesquisa na internet, e estranho, o senhor Stephen Koch não tem sequer um verbete na wikipédia. Não que isso seja necessário para dar credibilidade ao trabalho, mas, sempre que me deparo com um sujeito palestrando sobre “receitas para o sucesso” e não apresentando dados concretos, é inevitável recorrer ao “complexo de Richard”, o pai da Little Miss Sunshine e sua célebre palestra sobre como se dar bem, na abertura do filme, numa sala cheia de cadeiras vazias. Pode ser também que o Sr. Koch seja um desses sujeitos mais reservados e não queira expôr resultados de maneira quantitativa. Mostrar quantos alunos passaram por suas aulas, quantos publicaram depois do curso de escrita criativa, quantos seguiram adiante na carreira de escritor, quantos produziram obras realmente relevantes. Seria pelo menos interessante, não é? Não que uma oficina seja uma indústria de talentos, forjando sujeitos aptos a boa literatura. Uma oficina não faz milagres, mais ou menos como qualquer curso superior ou uma pós-graduação. Já conheci pessoas que saíram da faculdade sem saber interpretar um texto, outros com a alcunha de doutores, teses e teses publicadas, e completamente imbecis.
Mas o livro não é picaretem, pelo menos até o momento não pareceu.
Claro, há algumas obviedades. Tipo, como uma descrição com termos concretos funciona melhor em relação a uma descrição com termos abstratos, como mostrar através da ação funciona melhor do que dizer, etc. Essas coisas que qualquer leitor, escritor aspirante, com o mínimo de leitura entende. E claro, se você escreve, logo descobre que não há receitas. Que não dá pra esperar pela inspiração. Que o melhor momento pra escrever é qualquer momento. E que os grandes autores criam seus caminhos, apesar de toda a adversidade. E que essas receitas no início até ajudam, te ajudam a experimentar as várias formas de dizer alguma coisa, de contar uma história, mas depois são um entrave, principalmente quando você precisa encontrar aquela voz que te distingue de todas as outras vozes, aquela voz que faz do teu texto algo válido e minimante relevante. E pra encontrar essa voz, bom, aí não tem receita, senão escrever.
Afinal, só se escreve escrevendo. Às vezes acontece de você esperar pelo momento ideal, mas não existe momento ideal. E se existe uma coisa que aprendi nesse breve caminho inicial de escrita é o seguinte: quanto mais se escreve mais motivado se fica. Não adianta esperar pela motivação pra escrever. Esperar pela ideia genial, esperar pela inspiração, esperar pelo momento ideal e pela motivação; são pequenas desculpas que a gente inventa pra adiar a escrita, pra deixar para o dia seguinte.
Vai esperando...
Você só terá um texto para melhorar e torná-lo apresentável se escrevê-lo. Você só terá uma história, enredo, personagens, forma, estrutura, diálogos, se você escrever essas coisas. Se você escrever essa história. Não adianta esperar pela ideia genial que cai pronta do céu e toma o controle como um espírito toma conta de um médium. Não adianta querer que a coisa jorre genial desde a primeira frase.
A maioria dos jovens escritores e aspirantes querem ser Guimarães Rosa, Clarice, Bukowski ou J. K. Rowling desde a primeira frase, da primeira versão, do primeiro texto que se dispõe a escrever. Querem revolucionar a literatura ou vender milhões. Querem que os editores batam em suas portas e dêem tapinhas nas suas costas e digam que são gênios. Querem já na primeira frase ter seu nome estampado nas livrarias, nos cadernos de cultura, querem assinar um contrato com a Companhia das Letras e ir na Flip. E ficam pensando nessas coisas, e não escrevem. Ficam nos bares reclamando, na mesa de bar, e não escrevem. E acham tudo uma bobagem (porque estão de fora) e tecem textos virulentos reclamando do mercado literário, de editores maus, do coitado do leitor burro e desinteressado e do sistema literário injusto. (geralmente, como apontado nos comentários de um post anterior, o sujeito reclamão que diz "ninguém lê", na verdade, está dizendo ninguém ME lê).
Afinal, pra que ficar aí desferindo seu ódio adolescente às coisas?
Um escritor geralmente está ocupado demais escrevendo alguma coisa pra se preocupar com essas bobagens, diria Faulkner.
Se você diz que não tem tempo pra escrever, então, meu caro, desista. Porque se você não encontra tempo pra escrever é porque está ocupado demais com outras coisas mais importantes pra você. Então vá cuidar dessas coisas e desista de escrever.
Ps: acho que escrevi esse texto pra mim mesmo, ou não.
Cara, altamente elucidativo as coisas que vc falou. Vou até tuitar. É exatamente o que precisava ler, justo agora, que penso penso penso sobre essa doidera toda, que é escrever. Mil conflitos, mas tô na briga. Não desisti, não.
ResponderExcluirHeitor, esse livro é divertido, e útil, não pelas dicas e tal, mas nessa primeira parte, ele tem um tom de "motivação" amparado em citações de muitos escritores. Talvez te ajude a desbloquear...
ResponderExcluirAliás, sobre não escrever tem o "Bartebly e companhia" dos Vila-Matas que é genial. http://quebracorpo.blogspot.com/2010/11/bartleby-e-companhia-enrique-vila-matas.html