04/05/2011

Museu da Oralidade: o homem de 24 dedos.





"Num povoado que tinha pra lá, tinha um homem que tinha 24 dedos. 
Seis dedo nas mão e seis nos pé.

(...)

Agora eu vi um garoto, só num pude pegar nele, mas eu vi. 
Ia pegar nele, levar a mão nele e dava um choque. 

(...)

Eu não tinha medo não. Eu tirava leite pro fazendeiro lá no pé da serra do Ingaí. Tava mais ou menos com uns 14 anos. Ainda não trabalhava de carapina. Aí eu ia em casa trocar de roupa, acho que era uma quarta-feira. Lá tinha só um trilho de cavaleiro, tinha estrada velha mas dava volta, e tinha uma trilha que atalhava. Eu olhei e pensei que era um bezerro. E gritei: bezerro, bezerro, bezerro! Ô bezerro, psiu! Quando eu achei que era mansinho, ele me deu um choque na mão. Era tipo um menino, aí eu falei assim: neném, ô neném, como é que você chama? Quem é seu pai, quem é sua mãe? Como chama seu pai, como chama sua mãe? Ele não quis falar não. Era baixinho. Não era grossão também não, era fino. Parece que tinha o olho vermelho. Eu vi que não era assim coisa desse mundo, né? Que aquilo era invisível. Aí largava, passava lá e deixava ele lá. Quem tava a cavalo não passava. Ele ficou lá uma temporada. Não foi muita gente que viu não, foi muito pouca gente. Os outro assim era medroso, né? Passou um morador da fazenda, ele tava contando esse causo pras criança, pros companheiro. Aí o companheiro falou: ô sinhozinho, essas coisa assim a gente larga pra lá, num mexe não. Aí eu falei: se eu encontrar com o garotinho eu vou pegar ele pra mim e trazer pra cá. E ele respondeu: cê é louco? Cê tá ficando louco?"

Fragmentos do depoimento de Oliveira Peixoto Arantes (1921), morador de Luminárias-MG, disponível no Museu da Oralidade, projeto sensacional da ONG Viraminas, financiado pelo Ministério da Cultura, através do programa Cultura Viva. Pra conhecer o projeto, e vale muito a pena, basta acessar: http://museudaoralidade.org.br

*****

Nenhum comentário:

Postar um comentário

oi.