São João Cabral de Melo Neto que me perdoe, mas cometi esse poema.
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O paraíso [depois] da esquina.
Os caras de Luminárias
me disseram que as coisas mais legais estão em Lavras,
Varginha, Ouro Preto.
Mas os caras lá de
Lavras,
Varginha, Ouro Preto,
Contaram que o legal mesmo é BH.
Em BH, três caras me
contaram que queriam ir pra São Paulo.
Em São Paulo, por sua vez, os
caras me falaram que o legal mesmo é Porto Alegre.
Talvez seja.
Talvez seja.
Em Porto Alegre, no entanto, outros caras disseram: bom mesmo é Bueno Aires.
Em Bueno Aires, porém, na fila do cinema, no silêncio dos cafés, o assunto [mesmo quando não se falava], era mudar pra Paris.
Em Paris, alguém disse
que cool é Barcelona.
Mas, em Barcelona, os
caras disseram que cool mesmo é NY.
Em NY, três caras de
terno planejavam fugir ao amanhecer pra Paris.
Em Paris, sete mocinhas entendiadas olhar blasé queriam viver em NY.
Os caras de Luminárias
continuavam bebendo cachaça
e dizendo que as coisas
mais legais estão em Lavras,
Varginha, Ouro Preto,
alguma coisa,
nalgum lugar,
depois da serra.
alguma coisa,
nalgum lugar,
depois da serra.
***
querendo ser outro,
igual o cara sozinho que
encontrei na rodoviária
sapatos marrons de solado lascado,
esperando uma passagem,
como se outro
só por ser outro
fosse melhor que outro.
Trocar os sapatos e correr,
o paraíso [depois] da esquina.
***
Alguns caras de olhos cansados
sempre me disseram que o melhor de tudo é antigamente.
sempre me disseram que o melhor de tudo é antigamente.
***
Uma velha cascavel,
em Luminárias,
em Luminárias,
pela sétima vez,
abandona lascas de pele,
debaixo do sol.
abandona lascas de pele,
debaixo do sol.
Três caras,
em NY,
compram passagens só de ida pro Oriente.
em NY,
compram passagens só de ida pro Oriente.
E lá,
à beira de um ovalado lago oriental,
embicado numa rocha escura,
donde a neve escorre e desaparece líquida
na liquidez da água,
um chinês
toca flauta sozinho,
bebe um gole de chá enfumaçado,
e escreve versos
que só ele entende:
sonhava morar na Lua,
afogou-se.
afogou-se.
E que belo cometimento!
ResponderExcluirCada vez que leio os teus escritos viajo completamente num mundo que não me pertence, sinto uma paz uma saudade, espécie de nostalgia, não no sentido negativo, mas num sentimento bom o qual me deixa marcas, e horas pensando...pensando e querendo tbm escrever sobre tais mundos...
ResponderExcluirAbraço! =D
Obrigado, Wagner pela generosidade do comentário.
ResponderExcluirUm abraço.