20/09/2011

O silêncio em "There Will Be Blood"



São treze minutos sem diálogos na abertura do filme. Um homem sozinho cavando um poço. Pancadas de picareta, metal contra pedra, balde, carretilha. Uma explosão de dinamite, às vezes o vento que sopra. Os murmúrios, a respiração bestializada de um homem no fundo do poço. Um homem sozinho, cavando. Está tudo aí. Por vezes, a trilha estupenda de Jonny Greenwood sussurra, ganha vigor, estoura, desaparece, chia, conduz. O homem se arrasta. Outros homens. Agora, dois homens no fundo do poço. Falta ar no fundo do poço. Mas não, não se falam. A criança chora. Mais e mais homens. Mas não, ninguém se fala. O trabalho continua. O silêncio que sufoca. Um homem morre e mesmo assim ninguém se fala. O bebê chora. O pai tenta calá-lo. Silêncio.

***

O filho fica surdo depois de um acidente. E é a surdez do filho que, ao mesmo tempo em que o afasta, o protege das palavras do pai. O distingue do pai. O silêncio é o escudo protetor.

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"Você nunca foi nada além de um bastardo abandonado numa cesta no meio do deserto”, diz o pai, Daniel Plainview, ao filho surdo. A cena vem ao final do filme, depois de uma lacuna de pelo menos uma década [aberta depois da cena do restaurante/bar, onde o Sr. Plainview havia se reconciliado com o filho, depois de tê-lo abandonado]. A fala do Sr. Plainview é de um rancor terrível. Quer arrancar palavras do filho, apenas para rejeitá-las. Mas, a essa altura, o filho está longe o suficiente para não ouvir o pai. O silêncio o fortaleceu. O silêncio o libertou.

Um comentário:

  1. esses minutos iniciais do filme, são do caralho!!! já nos mostra a que veio. o final, tb me é inesquecível... "I drink your milkshake", e acerta o cara na cabeça! fu di do

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oi.