O tempo
não escoa como uma linha. São várias linhas paralelas escorrendo.
O passado não está atrás, está aqui do lado. Essa linha que a gente
segue, e as linhas que escorrem do lado. E por descuido, a gente é
tentando a saltar pra linha do lado. Mas não quer perder essa linha
que agora nos conduz. Ninguém quer perder nada. Mas ao pisar, acaba por mudar o rumo das coisas.
Não há inocência.
Um pé
aqui, outro lá, ao mesmo tempo.
As duas
linhas convergem, atraídas pela existência uma da outra. O vão, o desamparo que caí sobre as costas no momento de escolher, o
medo de escolher, medo de abandonar, medo de assumir. Não há inocência. As duas linhas se embaraçam, mas jamais se fundem, esbarram, se
tocam, confundem. Esse mero esbarrão anuncia uma tragédia. Dois
trens que se chocam. Metal retorcido, ferragens. Choro, ranger
de dentes. Estilhaços transpassando costelas, frio. E você não sabe muito bem onde está, como e por que aconteceu. E de repente só quer se livrar do
desconforto. Arrastar-se. Deixar tudo como era, antes do
primeiro movimento, do primeiro impulso, do primeiro olhar àquela linha
correndo ali do lado.
O tempo [talvez], as múltiplas cabeças da Hidra de Lerna.
"E viu-se um grande sinal no céu: uma mulher vestida do sol, tendo a lua debaixo dos seus pés, e uma coroa de doze estrelas sobre a sua cabeça. E estava grávida, e com dores de parto, e gritava com ânsias de dar à luz. E viu-se outro sinal no céu; e eis que era um grande dragão vermelho, que tinha sete cabeças e dez chifres, e sobre as suas cabeças sete diademas. E a sua cauda levou após si a terça parte das estrelas do céu, e lançou-as sobre a terra; e o dragão parou diante da mulher que havia de dar à luz, para que, dando ela à luz, lhe tragasse o filho."
Apocalipse 12:1-4
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O tempo [talvez], as múltiplas cabeças da Hidra de Lerna.
Hercules slaying the Hydra, Hans Sebald Beham engraving, 1545 |
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"E viu-se um grande sinal no céu: uma mulher vestida do sol, tendo a lua debaixo dos seus pés, e uma coroa de doze estrelas sobre a sua cabeça. E estava grávida, e com dores de parto, e gritava com ânsias de dar à luz. E viu-se outro sinal no céu; e eis que era um grande dragão vermelho, que tinha sete cabeças e dez chifres, e sobre as suas cabeças sete diademas. E a sua cauda levou após si a terça parte das estrelas do céu, e lançou-as sobre a terra; e o dragão parou diante da mulher que havia de dar à luz, para que, dando ela à luz, lhe tragasse o filho."
The Great Red Dragon and the Woman Clothed in Sun, William Blake |
The Great Red Dragon and the Woman Clothed in Sun, William Blake |
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oi.