Primeira Missa, 1861, Victor Meirelle |
O Brasil é o país em que a piada deu certo. Lembro de um humoristas [Veríssimo? não tenho certeza] explicando que, já nesse famoso quadro, da primeira missa, o humor brasileiro estava instalado. Que o germe do humor brasileiro está nesse índio arribado no galho da árvore, com as vergonhas de fora, ligeiramente inclinando, contemplando à celebração e adornos do sacerdote.
E não é que a história se repete?
Ontem, na posse da presidenta Dilma, a mulher escolhida para suceder “o cara”, a mulher que lutou contra ditadura e que, ontem, numa vibe Conde de Monte Cristo, passou em revista as tropas que a privaram da liberdade, emocionando muita gente [afinal nos adoramos uma narrativa épica]; ontem, depois de citar o poeta(sic) Guimarães Rosa, e do sopro festivo dos Dragões da Independência, do desfile de Rolls-Royce, com ou sem chuva, e de Sarney, o imortal, autor do fantástico “Marimbondos de Fogo”, jogar louros e adornos à celebrada presidenta, da mulher ascender à rampa que Vampeta desceu com cambalhotas, a figura do índio pelado apareceu novamente, assombrando a cena.
Enquanto feministas vibravam com a ascensão da mulher de fibra, bem sucedida e independente, assumindo o mais alto cargo do país; uma conquista de magnitude inimaginável há poucas décadas na nossa jovem democracia; enquanto Dilma vem exorcizar a figura arcaica da Primeira Dama, símbolo da esposa que resguarda as panelas da nação, um fato tão histórico e cheio de simbolismo como aquela primeira missa, onde os padres brancos, cultos, homens de Deus, vinham humanizar os selvagens atrasados; e ainda de ressaca pelas orgias de Ano Novo, talvez comendo um resto de chester Perdigão requentado no microondas, quebrando cabeça pra pagar o IPTU, IPVA, boleto de matrícula da faculdade, e eis ali, diante de nós, o insuperável índio pelado, encarnado na postura da belíssima Marcela Temer, miss Campinas e seu sorriso de paisagem, a nossa Segunda Dama.
No mínimo, um paradoxo.
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oi.