Fico imaginando como seria essa comunicação se estivéssemos no tempo das cartas. E que cada carta demorasse quatro, cinco, seis dias pra chegar. Fico pensando na aflição de ficar à janela, fumando um cigarro atrás do outro e aguardando o carteiro. Uma espera amarela. Indo conferir a caixinha do correio procurando teu nome e encontrando só a conta de luz, a cobrança do banco, prestação atrasada nas Casas Bahia e nada de carta. E essa demora que já parece infinita, de horas (concretamente a espera é breve, é claro) até que você leia meu e-mail (e sorria, e tenha uma espécie de alívio ou sopro de ar) e responda, relendo o e-mail responda apertando esse teclado aí, (ouve uma música?) e cada vez que completa uma frase, para, puxa uma imagem na sua cabeça, uma memória daqueles momentos nossos (a caminhada, abraço amassa pão ou o café?) , ou talvez uma fantasia futura, e tento crer que isso tudo é veloz, mas ainda sim é uma espera infinita, e tento recorrer à imagem das cartas antigas e do trabalho ao enviá-las, imagino como seria amplificada e ainda mais infinita à espera (antiga), escrever a carta à mão e levar ao correio e enfrentar uma fila tediosa, e aflito, naquilo que seria à espera de uma carta à moda antiga, viajando de ônibus, atravessando o estado e passando nas mãos do carteiro pai de família ou jovem estudante, amassada, misturada à outras cartas, talvez iguais e diferentes, letras diferentes, talvez datilografadas no meio da noite, algumas histórias assim, iguais, dessas que começam do nada e sem saber de onde vieram, com o sabor da surpresa, desarmando qualquer categoria de experiência ou suposta experiência anterior, dessas histórias que avançam pra romper com o tédio inerente à vida, dessas histórias que preenchem lacunas, histórias construídas e vividas pra se contar no depois, contar pra si mesmo (na memória), contar para o outro (e pra si mesmo também) e acima de qualquer coisa, contar um para o outro, lembrar junto, nesse nosso depois que se anuncia e me dá medo e conforta, que assusta e dá coragem. Imagino como seria essa carta que chegaria com tua letra riscada na borda, imagino essa carta demorada pra pensar que esses e-mails são rápidos, tento acreditar que há realmente uma rapidez nessas cartas feitas de bits e caracteres, atravessando ondas de rádio e cabos de fibra ótica, imagino à moda antiga pra contrastar, pra me convencer que esses e-mails são velozes de verdade, e preciso crer que são velozes de verdade, que são muito rápidos, que tuas palavras não dão espaço e que minhas palavras também não dão espaço, que as lacunas estão preenchidas, e preciso acreditar que são rápidos pra ficar mais tranquilo, pra não ficar ansioso, e no meio de uma leitura ou de um texto que avança lento, onde o rapaz do lavajato encontra a tímida a garota da loja de conveniência, quando a ansiedade me sobe pela boca do estômago, e me faz interromper tudo, perder o fio da meada, então venho aqui conferir, ver se a nova mensagem já chegou, se seu nome está nessa caixa de correio com ar de fumaça, alguma coisa meio nuvem, feita de bits, onde teu nome ganha uma estrelinha cada vez que chega.
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oi.