27/07/2011

Oswaldo França Júnior



setembro de 1959.


O escritor Joca Terron escreveu uma coluna sobre os escritores e a grana, no Blog da Cia das Letras, que me lembrou uma entrevista do Oswaldo França Júnior (foto), um escritor mineiro que esteve na crista da onda (sic), lá pelos anos 70/80. Ganhou um dos mais importantes prêmios literários da época (o Prêmio Walmap, uns dos jurados era Guimarães Rosa). Seus livros foram traduzidos na França, EUA, Alemanha, entre outros países. Gosto bastante de dois livros do Oswaldo França Júnior, Os dois irmãos e As laranjas iguais. Mas seu livro mais famoso é Jorge, um brasileiro, que inspirou o seriado Carga pesada e foi adaptado para o cinema. Oswaldo França Júnior faleceu num acidente de carro, em 1989. 

Antes de se enveredar pela escrita, Oswaldo França Júnior foi piloto da FAB (inclusive, quase matou o Brizola, naquele incidente dos militares em Porto Alegre, em 1961). Depois que deixou a FAB, em razão do Golpe de 64, Oswaldo França Júnior vinha pulando de cidade em cidade e de emprego em emprego. Fez de tudo um pouco, vendedor de carros usados, corretor de imóveis e até pipoqueiro. O que ele conta neste trecho da entrevista, além do dinheiro, se refere a escrita e publicação do seu primeiro livro, O viúvo, graças a uma mentira que ele pregou no Rubem Braga.

"Eu gosto demais do Rubem Braga e do que ele escreve. Aquilo é o que julgo escrever bem. Quem melhor escreve em língua portuguesa é o Rubem Braga. Eu trouxe uns contos numa pasta e liguei para ele. Olhei o número do telefone no catálogo, e falei que precisava falar com ele. Eu me lembro que ele perguntou: "Qual é o assunto?" Eu fiquei com vergonha de dizer que queria que ele lesse alguns contos meus, aí falei: "olha, eu não posso falar". Ele respondeu: "Tá difícil conversamos, eu não te conheço". Eu respondi: "Não, eu não posso falar por telefone, mas é um assunto do seu interesse." Naquela época existia muita censura por telefone. Ele respondeu: "Está bem, venha até minha casa." 

Fui até lá, bati na porta, ele mesmo abriu, eu eu disse que escrevia contos e gostaria de saber se eram publicáveis. Ele olhou para mim e pediu que escrevesse meu endereço no pacote. Uma semana depois, recebi uma carta dele, dizendo que havia lido os contos, gostado, e quando eu voltasse ao Rio que o procurasse. Quando voltamos a nos encontrar, ele disse: "olha, li e gostei. Por coincidência estou montando uma editora, inclusive eu estava disposto a editar este seu livro, mas mostrei-o aos meus companheiros e surgiu um problema: ninguém te conhece. Se você fosse um cantor de rádio, um artista de televisão, dava para editar, mas você é um desconhecido, e isso é arriscado. Nos precisamos de um retorno rápido de dinheiro." E ele ainda me perguntou: "você tem dinheiro para pagar a edição?" Eu respondi: "Mas como se eu tenho dinheiro? Eu quero editar é para ganhar dinheiro." E ele respondeu: "Ah, então é difícil. Ainda mais por ser conto, se fosse romance eu teria coragem de editar." 

Aí eu menti para ele: "Eu tenho um romance." E ele: "Então porque não trouxe?" Eu respondi: "Porque ele ainda precisa de uns reparos." 

Ele disse para mim: "Então você vai para casa, faz as correções e traz para eu ler." Eu disse a ele: "Olha, vai demorar um pouco, são muitas correções." Bom, vendi os carros que estavam em minha mão, voltei a BH, me tranquei no quarto e avisei a minha mulher: "Não azucrina minha cabeça, não deixa o menino fazer bagunça, porque eu vou fazer um trabalho importante." Eu fui escrever o romance. Escrevi a estória de um vizinho meu que tinha perdido a mulher e ficado viúvo.

Você mandou o romance ao Rubem Braga?

Mandei. E ele me telegrafou que ia editar. Depois perdi contato com ele. Eu estava numa luta muito grande para sobreviver. Mudando muito. Um dia, olho para a vitrine de uma livraria e levo um susto: meu livro estava lá. 

Aí o dinheiro começou a aparecer?

Que dinheiro?"

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Aliás, há uma edição especial, de outubro de 2009, muito bem feita, sobre o Oswaldo França Júnior. Bem legal mesmo. PDF.

E algumas fotos legais, como essa que abre o post, no Acervo de Escritores Mineiros.

4 comentários:

  1. Assinei o feed RSS deste blog pra poder acompanhar mais de perto. Tá massa.

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  2. HAHAHAHA... muito inspiradores!! Você e o Oswaldo. Ótimo, Marcos.

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  3. Bacana.
    ___
    Michele Santti
    http://michelesantti.blogspot.com/

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oi.